A luz do operário
Apática aos movimentos do vento
Brilha dias numa cor
Pra lembrar seu sofrimento.

Minha boca se abre sonolenta. O grito do apito da fábrica, esperneando aos meus ouvidos preguiçosos… Nada a fazer, espero. Escrevo. Espero.
Uma luz débil ilumina o pátio. Todos cinzas nas cinzas das chaminés. Café magro de queimar a língua. Homens mutilados. Ternos e gravatas. Multi-lados da derrocada.
Grito. É o apito.
A comida no alumínio e seu gosto de ferro amargo na boca. De sobremesa, o bilhar com as formigas operárias que, como eu, não vêem o sol. De luz, apenas o fogo das máquinas, temperando meu cansaço.
Mais um grito. Mas o apito está longe de tocar. Foi meu amigo, perdendo a vida a fio. Foi meu amigo, demitido. E eu? E eu, meu Deus? Eu não. Ainda não. Eu só perdi um dedo. De cada mão. E uma parte da vida. Quando caírem os dedos, nariz e orelha, ganharei meu prêmio de Emérito Operário Escravo.
Grita! Grita! Grita!
Gritou.
Vou embora. Talvez eu não perca nada aqui. Talvez eu perca na rua. Talvez eu chegue à Lua.