certa vez, disseram para eu falar menos palavrão.
aquilo tornava grotesca minha figura delicada.

disseram para eu me emocionar menos com o trabalho.
aquilo truncaria a produção.

também disseram para eu controlar meus ímpetos.
que, uma hora ou outra, não seriam mais aceitos pelos demais.

já me mandaram falar mais baixo, rir mais baixo, chorar mais baixo.
porque, claro, o mundo não precisa saber pelo que estou passando.

conselhos recebi aos montes.
pense menos, faça mais.
pense mais, sinta menos.

e depois de ouvir tanta coisa, me pergunto:
em que mundo poderei viver em verdade?
de verdade, em que mundo serei eu?
que lugar abrigaria o que abrigo em mim?

ser é território.
mortos e feridos em avanços de fronteiras.

quanto de seu território já perdeu?
quanto perdi eu?
já deixou de ser quem é para ser um não-eu?

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