quando eu me dei conta de que escrever não era um simples exercício ou válvula de escape, meu mundo chacoalhou. um terremoto que abalou as estruturas de uma blogueira que viu outros blogueiros construírem suas carreiras como escritores. não basta colocar a vírgula no lugar certo. não, poesia não é isso. até porque licença poética é justamente poder colocar a vírgula onde bem se quiser. eu queria simplesmente não usar a vírgula.

dez anos se passaram até que eu me desse conta disso. muito pior: me liguei de que poesia não é para ser lida na internet, em um simples post de blog, como uma lista de efeitos colaterais contidos na bula de rivotril. não, algo estava muito errado. e a vírgula sempre no maldito lugar certo.

“escrever bem não basta para se ter sucesso e você é uma excelente escritora”, eu li. desse jeito eu despenquei mais alguns degraus e dei com a cabeça na quina do sonho. eu dormi dez anos achando que seria escritora um dia e que um bom começo seria um blog. um bom começo para ser analista de mídias sociais talvez. não basta ser bom escritor. menos ainda um blogueiro com zil cliques por mês.

“vai dar uma volta no mundo lá fora”, eu ouvi. eu fui. encontrei um estúdio que passou a abrigar meus sentimentos digitais. depois dois estúdios. depois uma sala com velas aromáticas para iluminar um clipe por semana. eu vi que escrever bem não bastava. não era suficiente acumular centos de poemas em páginas sempre encontradas e, por isso, nunca procuradas. eis que vejo brilhar a chave da porta certa, a porta secreta. quando abri, havia apenas um bilhete. manuscrito numa tira de papel rasgada nas extremidades, o início do fim do meu pesadelo:

“não existe segredo escrito. existe segredo lido.”

2 respostas