um dia ele foi à vidente, desesperado de tanto amor que tinha, mas lhe faltava companhia. a vidente lhe pegou a mão e disse coisas sobre as vidas: essa, a passada, a próxima, a dos outros. falou que esse tormento acabaria quando, um dia, encontrasse uma moça chamada joana. que ela lhe viria morena, bonita, sabida da vida, da dela, da dele, da sua, da dos outros. que lhe transcenderia o corpo e a alma, dos poros da face ao cordão dourado do umbigo. assim, ele vagou feliz por mais um tempo e joana lhe veio como a vidente descrevera: morena, bonita, sabida da vida e com alguns adereços a mais que só lhe permitiria saber quatro semanas depois. eles se casaram e tiveram filhos, aos montes, às pencas, nas bananeiras, nos paióis. um dia ele foi ao mercado e, de sobressalto, a viu de fato: morena, bonita, sabida da vida, da dela, da dele, da sua, da dos outros. ela, de seu meio salto, olhou-o de baixo e perguntou o que mais queria. o que mais quero é saber sua graça, flor de maria. meu nome, senhor, é maria joana, mas pode me chamar de joaninha. da distância, ele sentiu o perfume da flor que resplandecia. pegou-lhe a mão, encostou os lábios mais gratuitos que famintos e partiu. primeiro passo dado para a desgraça ao seu lado. acreditou na vidente, cego evidentemente. entregou o que de melhor tinha ao copo d’água com açúcar naquele dia. pela pressa que teve de dar amor a quem não lhe cabia. pela urgência de amar Joaninha.
a crônica dor da urgência
24 respostas
Você precisa fazer log in para comentar.
Não entendi… houve duas Joanas?
Recomendo que leia novamente e tenha certeza do que disse.
😉
Ainda não entendi. Vamos à ordem cronológica dos fatos:
1) Ele foi à vidente.
2) Ele conheceu Joana.
3) Ele casou com Joana e teve filhos (aos montes).
4) Ele foi ao mercado e conheceu Maria Joana.
Quer dizer que a primeira Joana não se chamava Joana?
Ah, e muito malandro esse seu personagem. Perguntando nome de mulheres por aí, mesmo estando casado.
Vamos aos fatos:
1, 2, 3 e 4 = Sim
Resposta a sua pergunta: a primeira se chamava Joana, assim como inúmeras Joanas existem por aí. Acontece que o personagem foi precipitado em achar que qualquer Joana seria a DELE, que só veio a conhecer tempos depois. Significa que, muitas vezes, nos precipitamos em dar amor a quem quer que seja pelo simples fato de querer amar alguém. Deixamo-nos levar pela paixão ou por qualquer benefício superficial dentro de um relacionamento apenas para satisfazer esse desejo de amar e, muitas vezes, famílias são consolidadas dessa forma, criando laços difíceis de se destituir quando o AMOR aparece em nossas vidas. Enfim, é mais ou menos isso.
Lembrando que o personagem não é malandro, é humano.
Olha olha, eu achei fantástico e não paro de ler… Admito que além do bom texto, tenho motivos íntimos e recentes pra ter gostado ainda mais..rsrs
Depois me conta sobre a sua Joaninha 😀
Beijos!
Epílogo:
– “Ele” deixou mulher e filhos e foi morar com Joaninha. 5 anos depois Joaninha o deixou pelo dono do mercado.
– Joana, sua primeira mulher, foi morar em Cuba e virou amante de Fidel Castro.
– A vidente pegou 8 anos de cadeia por estelionato.
– “Ele”, nosso herói/ malandro/ humano, cometeu suicídio ao se jogar da letra W da placa “HOLLYWOOD” em Los Angeles, Califórnia.
Tudo não passa de ilusão de óptica, ilusionismo, ilusão idiótica? Esse desfecho seria possível para qualquer filme de Hollywood. Acontece que não se trata de filme. Significa que o final não é tão glamouroso assim. Saca?
Eu achei bem Nelson Rodrigues e NADA hollywoodiano! Está mais para “A Mulher sem Pecado” do que “Titanic”.
Thanks GOD!
😉
morre menino Ele. Joanas chora.
“Todos chora” na ficção e na realidade. A diferença está no desfecho. O que imaginei, nem de longe, apresenta um suicídio. 🙂
fiquei curioso com o desfecho imaginado.
De que importa o desfecho? A beleza nunca está no fim, mas no caminho percorrido pra chegar até ele!
Parabéns pela crônica!
É real, tá na rua, tá na vida!
(Que atire a primeira pedra quem nunca abraçou a Joana errada! rsrs)
Abraço!
Adorei! “Quem nunca abraçou a Joana errada”!!
Grande beijo, Diego, e obrigada pela visita! 🙂
To achando que o povo gosta mais de prosa do que de poesia (ou então é mais fácil de entender).
Pelo menos rende mais comentários… 🙂
Ah Ernée… Não se debate poesia. E nem eu quero que isso aconteça.
Eu escrevo o que sinto, e não interessa a forma da escrita: poesia, crônica, conto, dissertação, crítica… É comum as pessoas classificarem um texto como bom ou ruim. Agora, questionar o porquê de ser assim e não assado, aí é outra história. A esse tipo de leitor eu sugiro apenas que escreva seu próprio texto.
Além do mais, meu blog já tem 10 anos e está “velho demais” para se preocupar com número de visitas. Tanto eu, como meu blog, estamos mais interessados em “ser” do que “ter”.
Bjs!
É mesmo. Este blog está virando a Casa da Mãe JOANA
Acho que a resposta ao seu comentário está junto com a do Ernée… interligadas. Bjs!
Genial! Pelo mistério, pela simplicidade e pela narrativa.
PS: Podia falar muita coisa, mas, sabe quando a gente não consegue escrever o que sentiu? Pois é, você sempre me causa isso, flor.
=)
Meu irmão Ithalo, obrigada pela delicadeza de sempre. Um beijo enorme!
“Lembrando que o personagem não é malandro, é humano”.
Afinal, todos somos.
A sua escrita tem a virtude de deixar claras as suas qualidades. Afinal, foi no “Pense…” que te conheci.
=]
E foi no “Pense…” que nos descobrimos amigos eternos e trabalhamos juntos por algo muito melhor para nós, para eles, para todos. Nada de malandro, tudo de humano na estrada. Bjs!