(…) Pois amar é rápido, já perdoar é demorado.
Amar é dar-se para alguém, já perdoar é anular a glória da vingança.
Perdoar não tem visibilidade, não tem vaidade, é a mais profunda solidão.
Há alguém que se dispõe a realmente perdoar? Com a renúncia e o desapego que existem dentro dessa palavra?
Não é pôr uma pedra sobre o assunto, é carregar a pedra nas costas de volta à montanha.
Não é perdoar para esquecer, mas para lembrar todo dia.
Não é perdoar como um favor, mas para talvez nunca colher os louros do gesto.

— Fabrício Carpinejar, sobre o livro “O perdão imperdoável”, de Maria Carpi

Alguns escritores me tiram do estranhamento. O estranhamento que percebo nos olhares dos outros e que, muitas vezes, se torna meu próprio estranhamento sobre mim. Penso “eles têm razão, eu sou mesmo exageradamente intensa, não posso continuar com isso, é inaceitável!”

No minuto seguinte, lembro-me de Clarice Lispector:

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

E então tento manter o sossego. Não por muito tempo. Os olhares se arremessam sobre a minha “mania de ser sentimentaloide”, as bocas riem, os narizes se torcem, os corpos se contorcem de rejeição.

Entretanto, tenho alguns escritores que seguram minhas mãos com suas páginas afetuosas. Carpinejar tem sido o principal deles, com sua capacidade de me colocar em nosso mundo, que corre paralelo a todos, e eu me sinto menos absurda.

Deus só pode ser bom e generoso com quem faz isso às pessoas. Quando eu crescer, quero fazer isso também.