Há quem faça da própria vida um faz-de-conta. Essas pessoas fazem de conta desde a mais ínfima das tarefas até mesmo as grandes coisas. Quer ver só? Tem gente que faz de conta que é amável, empático e politizado. Há os que fazem de conta que são responsáveis, que trabalham demais e que, uau, cuidam de toda uma rotina composta por jornadas duplas, triplas… Pessoas que fazem de conta que se preocupam com os seus, que sentem desejo e até que amam.

Esse faz-de-conta é tão bem feito que costuma convencer tanto os que ouvem quanto os próprios que disseminam suas historinhas. Agora, vamos virar uma chave importante dessa discussão. O nome desse faz-de-conta é mentira. Leia tudo de novo substituindo pelo nome certo e me encontre neste parágrafo para continuarmos.

[Pausa]

Forte demais? Não, nem é. A verdade é que estamos habituados a mascarar sentimentos, sensações, ora para não machucarmos alguém, ora para não cairmos num abismo de tristeza e realidade. Por isso, há tantos relacionamentos deteriorados, mas muito bem maquiados de selfies, corações e declarações.

Calma lá, não estou dizendo que todo relacionamento é uma mentira. Mas, alguns são, sim. Infelizmente, há casos em que somente um dos dois sabe disso; outros em que um sabe e o outro se engana; outros ainda que ambos se enganam. Passam a vida batendo e assoprando, acreditando que esta é uma forma de se relacionar bem — só que não passa de uma forma de se relacionar, ponto.

Mentir é um vício como o cigarro, o álcool ou qualquer outro tipo de droga. Você começa com uma mentirinha aqui, outra ali, e quando vê está atuando 100% do tempo. “É só uma pequena omissão”, dizem alguns. Mentira. A autoindulgência é uma forma de procurar aliviar a culpa, mas ela não exime do erro. A falsa propagação continua presente, é um fantasma que irá acompanhá-lo durante todo o tempo, forçando-o a repetir e aperfeiçoar o teatro. E, uma hora ou outra, a máscara cai.

Saia do faz-de-conta, da autoindulgência, da mentira, pelos outros e por si. Todo vício é prejudicial à saúde e pode causar sequelas, talvez, incorrigíveis. Viver no faz-de-conta é viver pela metade, é usar o corpo como veículo de uma ilusão que fere e mata um pouco por dia.